11 de junho de 2007

O desconhecido e fantástico Jalapão

Uns 2 ou 3 anos atrás vi uma reportagem na revista da TAM que me chamou muito a atenção: falava sobre a reserva do Jalapão, região localizada no estado do Tocantins / Brasil e que foi cenário do filme "Deus é Brasileiro". As fotos eram fantásticas e não tive dúvidas de anotar as "coordenadas" na minha agenda eletrônica para assim que tivesse uma semana disponível fazer o pacote da EXPEDIÇÃO JALAPÃO, incluindo 3 dias de rafting numa região praticamente inabitada.

Em janeiro deste ano (2007) planejei a viagem para junho, aproveitando o feriadão de Corpus Christi. O Rafael não estava muito interessado nesta viagem, então decidi convidar qualquer familiar ou amigo que estivesse nas proximidades. Para minha surpresa, meu paizão aceitou no ato e então a partir daí fechamos o pacote e comecei os preparativos.

A viagem finalmente chegou e no dia 02 de junho embarcamos com destino a Palmas/ TO. A cidade foi planejada no estilo "Brasília", começando as construções no meio do nada e idealizada para uns 500 mil habitantes. Atualmente, no entanto, a população não passa de 250 mil habitantes, gerando um ar de cidade fantasma, apesar da modernidade das construções.

Neste primeiro dia, o pai e eu fizemos um City Tour com 2 bicicletas que foram disponibilizadas pelo hotel que nos hospedamos. Foi muito bacana.

No dia seguinte, dia 03, o pessoal da 4 Elementos / Venturas veio nos buscar com o Carcarodom, um antigo caminhão do corpo de bombeiros adaptado para turistas. Logo os guias nos passaram as instruções principais:
  • não pode chamar o caminhão de ônibus;
  • não pode chamar os botes de bóias;
  • não pode chamar a expedição de passeio;
  • e finalmente não pode chamar os guias de tios.
Entendido as informações, fizemos as apresentações. Na expedição haviam 9 turistas (expedicionários) e 6 guias: Mássimo (o dono da empresa), Beto (o líder principal), Paulo (guia de rafting - muito figura), Junior (guia de rafting que estava indo pela primeira vez para a região), "Baiano" (calouro do grupo) e ? (o motorista). Os turistas eram: Vitor e sua mãe Jin, Zeca e Júlia (casal), Jorge e Beatriz (casal), Gerson (que estava a trabalho em Palmas e aproveitou para tirar uns dias de férias) e papai e eu.

Os 3 primeiros dias foram "por terra". Conhecemos várias regiões encantadoras e únicas, como a serra do Gorgulho, as dunas de cor laranja envoltas de um pequeno rio, o morro da Catedral, a comunidade dos Mambuca (local onde iniciou a produção do artesanato do capim dourado), o fervedouro,... Este particularmente, foi o ponto alto na opinião do meu pai. Uma piscina natural, com água morna borbulhando com força do fundo da terra. Impossível de afundar! A areia extremamente fina vira um "caldo" flutuante, quase funcionando como um esfoliador natural. Simplesmente uma delícia.

Na quarta-feira, dia 6, desmontamos o acampamento e colocamos os itens essenciais nos 3 botes: barracas, sacos de dormir, colchões, comidas e algumas mudas de roupas. Iniciava assim a nossa expedição "por água": rafting de 3 dias com acampamento em regiões totalmente inabitadas, nas margens paradisíacas do rio Novo.

Foi realmente uma experiência super bacana. As praias eram lindas, de areia branca e águas cristalinas. Vez por outra avistávamos araras e outros pássaros raros. Fazíamos lanches durante o dia (sanduíches e frutas) em paradas rápidas na beira do rio. À noite, ficávamos ao redor da fogueira conversando e fazendo brincadeiras até o jantar ficar pronto e aí era o maior banquete: a comida era formidável, com direito a sobremesas de crepe flambado e tudo!

Esta expedição superou as expectativas. Tive experiências fantásticas que nem cheguei a relatar aqui, mas conheci um Brasil que não aparece na televisão. Um povo simples e ingênuo que não imagina o que existe fora de sua comunidade. Conheci homens que largaram tudo na "cidade grande", e estão felizes morando no isolado Jalapão, em suas casas de barro e teto de folhas de buriti. Conheci mulheres que relataram que na região o divórcio tinha aumentado depois do bolsa família, pois os "trastes" dos homens tinham ido para a cachaça e o dinheiro - que é entregue no nome das mães - bastava para elas se manterem sozinhas com as crianças. Conheci crianças que não conhecem mais do que suas próprias vilas, crianças que não jogam bola pois o pastor não permite e que me disseram que quando crescerem querem ser turistas...



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