Hoje foi o dia do Rafael passar mal. Eu ainda estava invicta, por puro milagre, já que meu organismo não é dos mais resistentes. Não que a comida seja complicada por aqui, mas estar num ritmo de constante mudança e calor é determinante para um mal estar vez ou outra.
Neste dia paramos em um posto militar e 2 soldados embarcaram em nosso carro. Eles seriam nossos seguranças na "estrada dos bandoleiros" (título de um dos capítulos do livro: "Safari da Estrela Negra" ou "Dark Star Safari" de Paul Theroux que retrata a mesma região que trafegamos).
Militares embarcando para nos acompanhar. |
Prosseguimos por uma região totalmente desértica, com raros carros 4x4 trafegando. Ao longe, a areia e o sol eram tão intensos, que o reflexo parecia apontar para um grande mar ao fundo. Puro efeito óptico. Não havia água em lugar algum. Por quilômetros e quilômetros apenas areia plana. Um "trambolho" era visto no horizonte: nosso motorista explicou que eram chineses a procura de petróleo. Eles estão por todos os lados da África, construindo estradas, implantando usinas eólicas e procurando minérios e petróleo.
Deste grande deserto plano estávamos para alcançar Marsabit. Inacreditável: uma montanha com uma floresta densa no meio de um eco-sistema extremamente árido. Em questão de poucos minutos, a paisagem transformou-se totalmente e estávamos no meio de uma linda floresta, muito úmida, subindo uma montanha. A transformação foi além: uma forte chuva começou a despencar, tão forte que logo o pó se transformou em lama, nosso carro começou a derrapar. Não tinha mais jeito! Aquela estrada virou um tobogã de lama e estávamos "presos" sem poder prosseguir. A chuva era implacável. Parecia que despejava baldes de água e não gotas. O motorista bem que tentou prosseguir, mas o carro atolava. Então tentou dar a volta e fomos obrigados a descer do carro no meio da tempestade com grande rapidez. Foi a única solução! Os 2 militares e o cozinheiro pegaram pás e começaram a cavar e a jogar pedras e galhos em frente aos pneus. Enquanto isso, nós tentávamos em vão nos abrigar em baixo de árvores.
Foi então que nos perguntamos: onde está a Barbie? Barbie era a turista alemã que já tinha manifestado suas frescuras no decorrer da viagem, usando salto alto nos safaris, criando transtornos para ficar hospedada em lodges e não em campings e carregando uma enorme mala de rodinhas e 5 mochilas extras.
Então, após a fatídica pergunta, surge Barbie ainda de dentro do carro, com sua capa de chuva cor de rosa e os saltos altos envoltos por sacos plásticos. Bizarro!
Ficamos nesta situação, na chuva e lama, por um bom tempo. Totalmente molhados, caminhávamos no barro molhado ao lado do carro que insistia em derrapar de um lado para o outro, muitas vezes desgovernado. Isso é que é safari de verdade dizíamos! :-)
Mas e nossas barracas e colchões? Com certeza estariam molhados, pois ninguém esperava por tamanha chuva e tudo estava no teto do carro ao alcance da água. A noite não seria das mais agradáveis...
Quando finalmente o carro se desvencilhou da lama e o motorista assumiu novamente o controle, embarcamos totalmente molhados e sujos de lama.
Após a chuva e o caos para retirar o carro do atoleiro, todos se preparam para prosseguir. A esquerda, Rafael ajuda Barbie a retirar sua capa de chuva rosa, mas seus saltos altos a desequilibram. |
Totalmente encharcada, aproveitei para tirar um foto da cratera da montanha antes de voltarmos ao deserto. |
Retornamos ao deserto e percorremos um caminho maior para chegar ao destino do próximo acampamento. No entanto não tínhamos o interesse de dormir em colchonetes molhados e o Rafael já estava mais doente com tudo isso que passamos.
Avisamos ao motorista que pagaríamos pela hospedagem extra caso conseguíssemos um local para dormir, tipo uma pousada ou hotel. Infelizmente na pequena cidade só tinha espelunca e escolhemos a menos ruim, mas com camas secas. Na entrada do alojamento muçulmano que escolhemos, uma grande advertência aos menos avisados: "No alcoohol. No prostitution.".
O banheiro, coletivo, era repugnante e dava vontade de vomitar. E o chuveiro era um fiapo de água, provavelmente proposital devido às dificuldades de se conseguir água na região. No entanto o quarto era adequado ao que procurávamos: nenhuma luxo, mas camas secas! :-)
Pátio interno do moquifo. As janelas eram para o pátio. |
Quarto oferecido na pousada. |
Na cidade de Marsabit. Da esquerda para a direita: Linn (da Noruega), eu, Christine (da Suíça) e Jessica (da Holanda). |
Outra vista da cidade. Da esquerda para a direita: Rafael, Coleman (Canadá) e Linn (Noruega). |
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