31 de agosto de 2012

Ramadan: o mês do jejum para o islã


Passou! Fazem 10 dias que finalmente os restaurantes e cafés voltaram a abrir durante o dia, e que posso tomar um inocente copo de água na rua sem causar um incidente. Todo ano são 30 dias de restrições alimentares a luz do dia...

Vinte de julho marcou o início do Ramadã (mês do jejum) deste ano. O Ramadã correspondente ao nono mês do calendário islâmico (que é baseado no ano lunar). Esta data retrocede cerca de 10 dias no calendário gregoriano e no calendário persa a cada ano, visto que ambos são baseados no ano solar.
Exemplificando, os próximos Ramadãs iniciarão aproximadamente nas seguintes datas:

2013: 9 de julho.
2014: 28 de junho.
2015: 18 de junho.
2016: 6 de junho.

No Ramadã, os muçulmanos, do nascer ao por do sol, não podem:
  • comer e beber;
  • fumar;
  • ter relações sexuais;

E devem:
  • aumentar as orações;
  • fazer mais caridade;


No Irã, durante o período do Ramadã, todos os restaurantes e lanchonetes ficam fechados durante o dia. Trata-se de uma imposição do governo e não de um desejo social, visto que parte da população iraniana  não pratica o jejum. Mesmo os estrangeiros não podem sequer beber água publicamente, em respeito ao país islâmico. Felizmente, mercados, açougues e feiras continuam funcionando normalmente e a rotina das "refeições secretas" na minha residência e nas dos meus vizinhos prosseguiu despreocupadamente. Todos os dias do mês sagrado senti o cheiro de comida no ar pela vizinhança, e entre os muitos amigos que já fiz no Irã, praticamente nenhum jejua, mesmo entre os muçulmanos que afirmam ser religiosos.

Estão "liberados" do jejum:
  • crianças (meninas até 9 anos e meninos até 15 anos);
  • gestantes e lactantes;
  • doentes;
  • idosos;
  • mulheres em período menstrual.

Pessoas que estejam viajando também podem deixar de jejuar, mas devem, em teoria, "compensar" os dias posteriormente.

Este ano o mês do Ramadã coincidiu com o período mais quente do verão e obviamente com os dias mais longos no hemisfério norte. O resultado, no Irã, foi um período de jejum de mais de 14 horas.
Achou difícil? Nos países nórdicos esse período pode chegar a 20 horas!

A quebra de jejum no entardecer tradicionalmente ocorre com a ingestão de tâmaras e um copo de água. Na sequência, podem compor a refeição queijo de cabra, folhas verdes, nozes e pão, para finalmente tudo acabar em kebab.

Bandejão de quebra de jejum servido pelo shopping Yas.

27 de agosto de 2012

Casamentos temporários



No Irã, para que um casal tenha um relacionamento mais íntimo, é preciso dispor de uma residência própria, pois sem um comprovante de casamento não podem se hospedar em nenhum hotel do país.

Sexo pago, ou prostituição, é então ainda mais difícil, mas a profissão mais antiga do mundo persiste também na terra dos aiatolás. Há ruas famosas como a Mirdamad, onde mulheres desacompanhadas, altas horas da noite, são vistas esperando um novo cliente. Estas, nem sequer podem mostrar o "produto", já que devem manter os padrões de vestimenta islâmica nas ruas.

Mas para tudo o que é proibido no Irã, há formas de se burlar a repressão. Algumas, inclusive, dentro da lei.

"Casamentos" podem ser realizados com prazo de validade constando no contrato, com o aval de um aiatolá. Estes contratos podem durar de poucas horas há vários anos, dependendo do interesse recíproco. Como é previsto pelo islamismo, todo casamento deve ter um dote, cujo valor consta no contrato. Viúvas ou mulheres que não tiveram "a sorte" de um casamento normal, sujeitam-se a estes casamentos temporários para arrecadar dinheiro para sua sobrevivência, tudo dentro dos preceitos xiitas. De posse de um contrato de casamento, os recém-casados podem hospedar-se em qualquer hotel e terem suas horas de união "estável" praticada sem nenhum inconveniente da polícia. Findado o casamento, ou melhor, a sua validade, o contrato é automaticamente extinto.

Naturalmente, devido a associação subliminar dos casamentos temporários com promiscuidade ou prostituição, famílias que desejam manter a reputação de suas filhas não autorizam este tipo de contrato. Elas (ainda virgens e sem terem realizado casamento anterior) nem podem optar por fazê-lo sem terem o aceite do pai por escrito. Uma vez que já tenham se casado, a autorização dos pais não é mais necessária.

No entanto, o objetivo dos casamentos temporários é muito mais abrangente, e pode constar em contrato que não haverá envolvimento sexual. Exemplifica-se casos como quando uma mulher e um homem sem parentesco precisam viver sob o mesmo teto.

Casamentos temporários também não precisam da conivência da(s) esposa(s) oficial(ais). No islamismo, um homem pode ter até 4 esposas, mas no particular caso da constituição do Irã, apenas quando a esposa consente (caso bastante raro na sociedade iraniana).

Em cidades como Qom, uma das mais religiosas do Irã, praticamente 100% das mulheres usam chador e não conversam com homens que não sejam seus parentes. Para que demonstrem o interesse de fazer um casamento temporário, o código é colocar o chador do avesso, ou seja, com a costura para fora. Interessados então fazem a aproximação e negociação... Como depois a conversa evolui eu não imagino, mas deve ser um papo bem estranho.




4 de agosto de 2012

Eu vejo flores em você!


Eu vejo flores no Irã!

Nossa falta de conhecimento sobre países como o Irã faz nossa imaginação criar cenários desérticos, sem água e sem cor nas terras onde reinou um dos maiores impérios já registrados na história. Não é a toa que o império Persa tenha se desenvolvido tanto nas artes e na arquitetura: tinha um cenário diversificado para se inspirar. Sim, desertos, mas também montanhas, cânions, rios, cachoeiras, florestas altas e rasteiras. E o clima também não é monótono: calor extremo e frio de congelar.

Com tantas montanhas, o montanhismo é o esporte popular, apesar de vermos de longe trilhas aparentemente áridas e monocromáticas. Os picos nevados dão a inspiração para a caminhada, e pelas trilhas vou; vendo outras montanhas, outras cores, outro Irã. A cada passo uma nova cor: vermelho, amarelo, branco, azul. São tantos os tons que é preciso ver mais de perto para apreciar a forma e tamanho. Flores! Flores por todos os lados! Para os botânicos e entomologistas um prato cheio!

Assim também me dou conta por que existe tantas marcas de mel e lojas específicas do doce produzido pelas abelhinhas aqui no Irã. Há um enorme potencial natural, aproveitado por muitas "fazendas de mel" que são facilmente encontradas pelas rodovias.

Assim é o Irã: se você quiser ver de longe, verá algo simples, sem cor e árido. No entanto, se quiser ver de perto, verá sofisticação, cores e riqueza.

Muitas fazendas de produção de mel são vistas pelas montanhas do Irã.




















Flores com 2 metros de altura.








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